Terço dos Idosos e Casais
MISTÉRIOS DOLOROSOS
Meditações
JESUS REZA NO HORTO DAS OLIVEIRAS
Quando o silêncio te cercar, como a vedação de arame farpado de um campo de concentração, e a ingratidão e o abandono dos irmãos te isolarem, pensa em Maria: a poesia jorrará então como um sol fugaz sobre os horizontes da tua imaginação; e, atrás dela, virão as graças do Senhor, numa conversa cada vez mais fidedigna. O silêncio protege a meditação, e esta é a conversa com o Eterno. Quem imita Maria prefere permanecer em silêncio: não resmunga, não explode, não se revolta; guarda tudo no seu coração, por amor de Deus. O silêncio é a taça que recolhe a palavra e o abrigo do espírito para a meditar. Aquele que permanece em silêncio, através desse silêncio, solicita a palavra do outro, que, encontrando o vazio, o preenche. Deus fala, Maria escuta. Quando alguém fica só, só resta o Crucifixo. E este aproxima-se dele com mais confiança através da Mãe, que conhecia a sua angústia.
A FLAGELAÇÃO DE JESUS
Maria sofreu com Ele. Cada golpe de vara, cada insulto, manchava a sua alma de sangue, enquanto revivia fielmente todas as atrocidades infligidas ao seu Filho. O martírio moral de Maria foi tão profundo quanto o martírio físico de Jesus. Como poderíamos amar Maria Desolada, compreendê-la (isto é, levá-la connosco) e unir-nos a Ela, se não sofrêssemos também algo? Se não absorvêssemos uma gota daquela torrente de angústia que lhe caiu sobre o coração? Assim como a tragédia do seu tempo feria o coração das pessoas humildes, também no coração de Maria estava condensada toda a dor da humanidade. No plano humano, Ela era o centro dessa dor.
JESUS É COROADO DE ESPINHOS
Maria não derramou sangue, não subiu à cruz, não foi açoitada, não pregou, não fez milagres… Verdade. Mas a imitação perfeita acontece na alma. Não são as formas exteriores que contam, mas antes a crucificação interior, o apostolado da vida, a resistência — com o espírito de Cristo — ao tédio, ao cansaço e à angústia de viver. A honra da Mãe de Deus ter-se-ia transformado, aos olhos do mundo, na desonra da Mãe dos condenados. Maria aceitou o seu destino com a única intenção de cumprir a vontade de Deus. Viveu essa missão meditando-a, à luz do plano do Pai. Maria fica calada quando não compreende, sabendo que a palavra de Jesus tem valor também no mistério. Se não a compreender agora, meditando nela, amando-a, guardando-a, acabará por compreendê-la: tomá-la-á para dentro de si, para a traduzir em vida.
JESUS, CONDENADO À MORTE, SOBE O CALVÁRIO
Com a Via Sacra de Cristo, começou também a Via Sacra de Maria, seguindo os Seus passos. Um cortejo de legionários e servos arrastava o condenado até ao local do suplício; a Sua Mãe seguia atrás, num grupo de mulheres. Dois torturados, de formas diferentes. A certa altura, numa passagem ou numa queda, encontraram-se. E Ele foi consolado pelo olhar daquela mulher que Lhe era fiel, enquanto os discípulos, por medo, tinham fugido. O destino de Maria, tal como o de Jesus, é único: representa um amor extremo e uma dor extrema. Mas, de certa forma, o destino de cada homem e de cada mulher se assemelha a esse: uma marcha para o Calvário. Na Igreja, estás em ordem se fores Maria: isto é, pronta a desaparecer nas sombras, talvez para passar de uma posição de destaque para a mais humilde posição de serviço. Se fores obediência à autoridade, humildade perante a fama, sombra diante da luz, silêncio em vez de palavra, nada perante o Todo, pequenez aos pés do Altíssimo.
JESUS MORRE NA CRUZ
A atitude mais profundamente humana e divina, a única que não se ajoelha perante o mal, é a de Maria: Ela estava de pé. Sob a cruz, acolheu no seu regaço aquele corpo ferido que um dia trouxera ao mundo. Permaneceu, no abandono da maioria, a Mãe fiel. Quando Ele morre, Ela fica para sofrer: dá início à Igreja, cuja missão é completar o sofrimento de Cristo, incorporando n’Ele todos os redimidos. Tanto quanto a sua natureza o permitiu, Maria Desolada repetiu a Paixão de Jesus: foi um reflexo d’Ele, com um tom maternal. Silêncio, serviço, sacrifício: esta é a sua vida e esta é a sua mensagem. Pastores e humildes foram até à gruta de Belém. No Monte da Caveira, porém, estavam apenas as mães do cadafalso: as mães dos ladrões crucificados, do enforcado Judas… e Maria. Que, mesmo então, se compadeceu delas. Aos pés da cruz, Maria também foi sacrificada. Mas não morreu, para não deixar o Seu Filho sozinho, abandonado até pelo Pai.